terça-feira, 19 de abril de 2011

O Recheio do Pop


O RECHEIO DO POP


Eu estava assistindo Alejandro pela milésima vez quando resolvi fazer este artigo. Sem dúvidas, é o clipe mais controverso para os fãs, pois não existem modos de ficar indiferente a ele. O clipe é forte, cheio de cenas interpretativas, com coreografias rígidas fazendo referências a ditadura militar (não necessariamente a nossa). E talvez por conta disso, o clipe tenha uma alma extremista: “ame-e ou deixe-o”. Essa frase usada na publicidade do regime militar de 1964, no Brasil, encaixa-se perfeitamente à arte conceitual do videoclipe.

Por falar nisso, a palavra conceitualidade me remete a outros assuntos. O primeiro que vem à minha mente, é o assunto referente às críticas que a artista Lady Gaga recebe sempre que lança algo novo. Como exemplo mais recente, usarei a música Judas para analisar e compartilhar com vocês os motivos dessa eterna guerra entre a superficialidade e a conceitualidade.

Confesso que demorei para digerir completamente Judas. A sonoridade, sem sombra de dúvidas, foi muitíssimo bem trabalhada. Não é a toa que no vídeo de Judas no Youtube, muitas pessoas criaram a palavra “eargasm” (leia-se: orgasmo auditivo) para tornar concreto aquilo que eles estavam sentindo ao escutar a música. Mas a questão maior está centrada na letra da música. Trechos como “I'm in love with Juda-as, Juda-as”, “Jesus is my virtue” e “A king with no crown, king with no crown” se tornaram alvos de críticas destrutivas por parte de religiosos. Não é errado você defender aquilo que você ama, ou aquilo em que você acredita. Mas já se pode considerar um erro quando alguém deprecia o que o outro faz sem ao menos ter analisado o contexto em que o alvo da crítica está inserido. “Ela está a tentar destruir a fé cristã para promover as suas atuações secantes, mundanas e sem talento”. Não me espanto em ter que me deparar quase todos os dias com esses argumentos secantes, mundanos e sem talento. Mas o que mais me deixa incrédulo, é o fato de que esses argumentos provêm de pessoas cuja experiência espiritual (e porque não conceitual) é elevadíssima. Será que eles apenas se esqueceram de interpretar a letra da música, ou será que eles temem a igualdade e o respeito que Lady Gaga ‘prega’ em suas letras?

Infelizmente não são só esses religiosos que atacam sem justificativas plausíveis a arte de Lady Gaga. Ontem tive uma infeliz conversa com um amigo meu que insistia veementemente em dizer que Lady Gaga estava causando polêmicas demais e que não precisava disso para estar na mídia, pois tem talento suficiente. De certo modo, ele está correto e não tiro essa razão dele. Eu só não entendo porque as pessoas tratam desse assunto de uma forma tão negativa. Se vocês não sabem, lhes digo: todos vocês são alienados pela mídia e pelo mercado. Eu, você, sua mãe, seu futuro filho, enfim, todos nós. Não entendo o motivo pelo qual toda essa crítica negativa a uma coisa da qual você mesmo participa. Se você não é um sociólogo extremista que sabe o funcionamento perfeito do sistema capitalista e o evita constantemente, então você faz parte de tudo isso. E se você faz parte de tudo isso, não cabe a você criticar esse sistema, muito menos criticar alguém que apenas usufrui corretamente de seu talento para atingir as massas.

Por falar em massa, outro assunto interessante me vem à mente: a música pop. Às vezes eu não consigo entender porque o pop é tão subestimado. O rock, o heavy metal, o hip hop, a ópera, entre outros, são por acaso superiores ao pop? E o pior: Lady Gaga é rapidamente associada ao pop, sendo considerada inferior à outros artistas. Se você tiver uma boa justificativa para me convencer de que o pop realmente não se compara com os outros estilos musicais, eu paro de escutar Judas nesse exato momento. Ou melhor, eu nunca mais escuto pop na minha vida.

Tudo isso faz com que eu volte ao assunto da conceitualidade. Esse estilo musical, por ser a maioria das vezes comercial (leia-se: pop é a abreviação de popular, ou seja, um estilo musical massivo), quase nunca é levado a sério. Antes de ontem, no meu ambiente de trabalho, resolvi colocar Born This Way para que todos escutassem. Não estranhem, no local onde eu trabalho, as pessoas são completamente descontraídas, e sempre trabalham ouvindo música. Enfim, uma ou duas pessoas começaram a curtir e dançar com a cabeça. Mas logo fui vítima de olhares curiosos que me condenavam a cada refrão da música. No fim, antes mesmo da Gaga dizer o último “Same DNA”, tiraram meu CD e colocaram “Don’t Cha”, das extintas Pussy Cat Dolls, em uma versão rock’n’roll dos anos 50. Porque rock’n’roll? Havia algum problema em escutar a versão das “menininhas libidinosas à procura de sexo”?

Na minha opinião, o preconceito contra o pop já se tornou hipocrisia - o pior defeito do homem. Porque só não enxerga o pop como uma arte quem não quer. De certo que Lady Gaga mudou o modo de muitas pessoas enxergarem o pop, mas isso não quer dizer que antes o pop era menor ou inferior.

Voltando a falar de Lady Gaga, eu encerro esse artigo dizendo que a Gaga, para quem não percebeu, está brincando de ser estrela. O objetivo dela é mostrar aquilo que ela sabe fazer para todo mundo, e isso não é condenável. E a modinha que todos falavam que existia, na verdade, era apenas um sistema de defesa do seu cérebro para recusar algo que você já sabia que ia se eternizar no mundo pop. Felizmente ou infelizmente o seu subconsciente também trabalha nas horas vagas...

“Deixe-me lhe dizer algo. Se você rasgar a porra da minha franja, tirar a peruca da porra da minha cabeça, tirar meus sapatos, meu sutiã, cada coisa no meu corpo e me colocar em um piano com um microfone, eu ainda vou fazer você chorar!” – Lady Gaga

Por: Fenice F. cmm gaga

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